segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Professor da USP vê diferença entre ruralistas: “produtores e especuladores”

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

O senador Blairo Maggi (PR-MT) costuma se dirigir à senadora Kátia Abreu (PSD-TO), durante discussões sobre Código Florestal, e dizer: “Você nunca produziu nada”. Em relação ao Código Florestal, ele afirma que ela não sabe do que está falando, exatamente por manter terras para gado, com fins especulativos. O relato é do professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, da USP, para quem as diferenças entre os ruralistas são explícitas e assumidas.

Rodrigues faz parte do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz), do Departamento de Ciências Biológicas, em Piracicaba. Ele participou no sábado, em São Paulo, do Hackday Código Florestal, um evento que tomou o fim de semana, organizado por ativistas ambientais. Estes consideram que “o jogo não acabou” em relação ao Código, e organizam informações para pressionar os políticos a barrar mudanças que beneficiem os ruralistas.

O relato do professor da USP identifica pelo menos dois grupos entre os ruralistas do Congresso. Um deles, o dos produtores – que têm no senador Maggi um símbolo. Comumente descrito como “rei da soja”, ele planta mais de 200 mil hectares de grãos (soja, milho, algodão) no Mato Grosso, onde foi governador. Seu primo Eraí Maggi planta ainda mais – 300 mil hectares.

O outro grupo seria o dos pecuaristas. Rodrigues observa que 2/3 da área agricultável no Brasil (mais de 200 milhões de hectares) não estão com a agricultura, e sim com a pecuária. E que esta, assegura, não é produtiva, e sim especulativa. A relação entre a arroba do boi e o território ocupado, em boa parte dos casos, é deficitária. Isso significa que o gado é utilizado para outros fins – como a lavagem de dinheiro.

Ele mencionou o caso de outro senador, Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado e apontado como favorito à sucessão do atual presidente, José Sarney (PMDB-AP).

Os dois são mencionados no livro “Partido da Terra” (Alceu Luís Castilho, Editora Contexto, 2012). O autor do livro – responsável por este blog – identifica a existência de um “sistema político ruralista” no Brasil, do qual a bancada ruralista seria uma de suas expressões. Essa idéia foi construída a partir da análise da declaração de bens de quase 13 mil poíticos brasileiros, eleitos em 2008 e 2010.

O debate no início do Hackday Código Florestal contou também com a participação de Sérgio Leitão, do Greenpeace, e de Raul do Valle, do Instituto Socioambiental (ISA). Leitão enfatizou outra diferença na bancada ruralista: aquela mais rígida (composta por 150 deputados que bancaram há alguns anos a eleição de Aldo Rebelo à presidência da Câmara), que atua sempre fechada, "pensa nisso 24 horas por dia", e uma mais maleável, que pode ser alvo dos ambientalistas em relação à mudança de voto.

Raul do Valle considera que, para além da posse de terras pelos políticos, ou doações de campanha por empresas agropecuárias, a bancada ruralista é composta por parlamentares que adotam um discurso ideológico hegemônico. Esse discurso é associado ao crescimento e à noção de que o Brasil ainda teria terras de sobra para agricultura e pecuária. Ele considera que é preciso deixar claro à sociedade as consequências dessa visão de mundo.

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